26 de março de 2022
Há um provérbio Yorubá que diz: “se quer saber o final, preste atenção no começo”. Isso nos lembra o quão fundamental é olhar para o processo e organizar nossas ações, para cada dia mais chegarmos perto das transformações necessárias que buscamos dentro da nossa organização.
Nina Weingrill, diretora de dados da Énois
Em 2017, a gente tinha um sonho: construir uma régua que ajudasse redações a medir seu “grau” de diversidade, com base nas experiências que havíamos acumulado com organizações de mídia até então. Tínhamos muita nitidez sobre a necessidade de algo que padronizasse as experiências e pudesse ser um indicador de que nosso trabalho dentro desses espaços gerava resultados. Que estávamos chegando lá – ou mesmo, em outros casos, quão longe ainda estávamos desse objetivo.
Corta para 2021. Não só lançamos a Régua de Diversidade, a primeira plataforma online no mundo a acompanhar o desempenho das organizações ao ampliar ações de representatividade, mas entendemos que precisávamos criar outra régua. Agora para medir os resultados de todas as ações que a Énois faz no campo, e não apenas dentro das redações.
Quem trabalha em uma organização da sociedade civil ou mesmo em veículos de comunicação sabe da necessidade de identificar, seja por meio de alcance, engajamento ou de entregas, o que afinal estamos ajudando a transformar no mundo. Se você já teve um projeto financiado, provavelmente ficou algumas noites sem dormir tentando responder “qual o IMPACTO do seu trabalho?”.
Para organizações como a nossa, isso é MUITO difícil de medir. Pelo menos, quando partimos de parâmetros tradicionais. Primeiro porque muito do que entendemos por impacto é subjetivo: o fato de uma pessoa se reconhecer negra, por exemplo. E, depois, porque a vida não respeita o tempo dos projetos. Às vezes, demora cinco anos para alguém que passou por um dos nossos programas conseguir tirar sua ideia do papel.
No entanto, com 13 anos de atuação, a gente teve tempo suficiente para entender, o que poderia acontecer uma vez que as pessoas se conectam com o nosso trabalho.
Nossa primeira experiência foi começar a coletar e registrar os impactos que apareciam e que, no nosso entendimento, eram a tradução de como nosso trabalho transformava a vida das pessoas. Criamos um formulário onde qualquer pessoa da equipe poderia registrar desde participações em festivais e eventos até um e-mail fofo de ex-alunos contando que haviam conseguido um emprego.
Isso ajudou bastante a termos, de forma organizada, o que colocar nos nossos relatórios. Mas não era suficiente. Havia coisas que eram parte do objetivo dos nossos programas, ou seja, entregas que estávamos nos comprometendo a fazer. E, para isso, era preciso criar indicadores de acompanhamento dessas ações e medir seus resultados.
Outro desafio surgiu: como alinhar os indicadores de projetos e programas com o que queremos enquanto instituição? Mergulhamos na missão da Énois e de lá tiramos quatro objetivos gerais que norteiam absolutamente tudo o que fazemos – inclusive se devemos ou não aceitar um projeto. A partir deles, destrinchamos o que queremos alcançar e que demonstra se estamos no caminho certo. Disso nasceram nossos indicadores: uma lista de tudo aquilo que desejamos acompanhar, como os dados de uma audiência em um site, o perfil do público participante de um programa de formação, etc.
Para fazer esse trabalho, montamos uma equipe de dados e métricas, que hoje somos eu, Jamile Santana e Mel Oyá. Fizemos esse exercício com cada área da Énois: comunicação, captação, financeiro, formação e operação de programas e projetos. E desenhamos instrumentos numa lista que hoje computa 26 indicadores (deusas nos ajudem).
Nosso trabalho está só começando, mas a gente já queria vir aqui contar pra vocês porque entendemos que medir as coisas nos deixa mais seguras sobre a efetividade do nosso próprio trabalho e, no nosso caso, garante que estamos, de fato, conseguindo implementar processos com a premissa da diversidade.
Há um provérbio Yorubá que diz: “se quer saber o final, preste atenção no começo”. Isso nos lembra o quão fundamental é olhar para o processo e organizar nossas ações, para cada dia mais chegarmos perto das transformações necessárias que buscamos dentro da nossa organização.
Existem milhares de maneiras de contar histórias para o mundo. E nós escolhemos contar nossas histórias agora também por meio de dados. Organizando e mapeando as transformações possíveis da nossa rede.
Se quiser bater um papo sobre isso, só me escrever aqui: nina@old.enoisconteudo.com.br
E, antes de ir, a Jamile deixou um passo a passo aqui pra caso você queira começar a pensar em medir o resultado dos seus esforços enquanto organização ou coletivo (não precisa ser grande pra começar):
5 passos para realizar uma coleta de dados diversa na sua organização
Defina objetivos para sua organização. Listar o que você espera como resultado do seu trabalho vai te ajudar a entender o que você faz enquanto organização e a focar naquilo que te deixa mais perto de alcançar seus resultados. Com isso, você poupa energia e recursos de equipe, buscando fomento ou participando de projetos que realmente estão alinhados com as suas metas.
Estabeleça metas e indicadores. Definindo os objetivos, você vai precisar saber se o trabalho realizado tem feito sua organização chegar onde queria. Por isso, você vai precisar acompanhar os avanços ao longo do tempo. Por exemplo: um dos objetivos da sua organização é ter uma equipe mais diversa, então sua meta é “aumentar em 50% a contratação de mulheres em um ano”, e o indicador que você vai usar para avaliar isso é “número de mulheres contratadas no último ano X período anterior”.
Crie uma rotina de cuidado com os dados. Você não vai conseguir acompanhar o desenvolvimento de um objetivo se não alimentá-lo de informações atualizadas. Uma vez por mês (ou outro período que fizer mais sentido para seu projeto), atualize o registro das informações, lembrando sempre de padronizar a forma como você armazena, o que facilita uma análise comparativa depois.
Engaje sua equipe. Se possível, construa as metas de sua organização junto com a equipe. Afinal, cada integrante é parte importante para que os objetivos comuns sejam alcançados.
Revisite trabalhos e conte os impactos para o mundo. Seu trabalho pode gerar um impacto que você não estava esperando. E isso pode demorar muito tempo a aparecer. Portanto, registre os impactos que chegam até você e, de tempos em tempos, converse com as pessoas envolvidas naquele trabalho/projeto para saber se houve algum desdobramento. Depois, conte para o mundo. É uma forma de mostrar a seriedade e relevância do seu trabalho.
Um salve e muito obrigada a todas as apoiadoras e todos os apoiadores da Énois ♥
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